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Da teocracia

We've got the American Jesus
Bolstering national faith
We've got the American Jesus
Overwhelming millions every day

Parece que a maioria das antigas nações foi governada por uma espécie de teocracia. Comece pela Índia, e você verá os brâmares por muito tempo soberanos; na Pérsia, os magos têm a maior autoridade. A história das orelhas de Smerdis pode perfeitamente ser uma fábula; mesmo assim, dela resulta que era um mago que estava no trono de Ciro. Vários sacerdotes do Egito prescreviam aos reis até mesmo a medida do seu beber e do seu comer, criavam-nos na infância e julgavam-nos depois da morte, e muitas vezes se sagravam eles próprios rei.

Se descermos aos gregos, sua história, fabulosa como é, porventura não nos conta que o profeta Calcas tinha no exército poder bastante para sacrificar a filha do rei dos reis?

Desça mais baixo ainda, nas nações selvagens posteriores aos gregos: os druidas governavam a nação gaulesa.

Não parece tampouco possível que nos primeiros povos um pouco mais forte tenha havido um governo que fosse a teocracia; porque, mal uma nação escolha um deus tutelar, esse deus tem sacerdotes. Esses sacerdotes dominam o espírito da nação; eles só podem dominar em nome do seu deus; logo, eles o fazem falar desde sempre: transmitem seus oráculos; e é por uma ordem expressa de deus que tudo é executado.

É dessa fonte que vieram os sacrifícios de sangue humano que enodoaram quase toda a terra. Que pai, que mãe seria capaz de abjurar a natureza a ponto de apresentar seu filho ou sua filha a um sacerdote, para serem degolados num altar, se não tivessem certeza de que o deus do país ordenava esse sacrifício?

Não só a teocracia reinou por muito tempo, mas levou a tirania aos mais horríveis excessos que a demência humana é capaz de alcançar; e, quanto mais esse governo se dizia divino, mais era abominável.

Quase todos os povos sacrificaram filhos aos seus deuses; logo, acreditavam receber essa ordem desnaturada da boca dos deuses que adoravam.

Entre os povos impropriamente ditos civilizados que não praticaram esses horrores absurdos, só vejo os chineses. A China é o únicos dos antigos Estados conhecidos que não foi submetido ao sacerdócio; porque os japoneses viviam sob as leis de um sacerdote seiscentos anos antes da nossa era. Em quase todo lugar, a teocracia estava tão bem estabelecida, tão arraigada, que as primeiras histórias são as dos próprios deuses, que encarnaram para vir governar os homens. Os deuses, diziam os povos de Tebas e de Mênfis, reinaram doze mil anos no Egito. Brama encarnou para reinar na Índia; Samonocodom no Sião; o deus Adad governou a Síria; a deusa Cibele havia sido soberana da Frígia; Júpiter, de Creta; Saturno, da Grécia e da Itália. O mesmo espírito preside todas essas fábulas; é em toda parte uma confusa ideia dos homens a de que os deuses desceram outrora à terra.

Voltaire
1694 - 1778

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