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Mostrando postagens de outubro, 2020

Viciados em significados

Vivemos numa era complexa, em que muitos dos problemas que enfrentamos, quaisquer que sejam suas origens, só tem soluções que implicam uma profunda compreensão da ciência e tecnologia. A sociedade moderna precisa desesperadamente das inteligências mais capazes para delinear as resoluções desses problemas. Não acho que muitos jovens bem dotados serão estimulados a seguir uma carreira na área de ciência ou engenharia vendo televisão nas manhãs de sábado - ou grande parte do resto da programação norte-americana de TV.  Com o passar dos anos, uma profusão de séries e "especiais" de TV crédulos e acríticos - sobre percepção extrassensorial, canalização, o Triângulo das Bermudas, UFOs, os astronautas antigos, o Pé Grande e outros temas do gênero - tem se multiplicado. In search of..., uma série que se tornou padrão, começa rejeitando toda e qualquer responsabilidade de apresentar uma visão equilibrada do assunto. Pode-se constatar uma sede de maravilhas que não é mitigada nem mesmo

Unpopular Essays

There is no God Os cristãos garantem que sua fé conduz ao bem e que as outras conduzem ao mal. Eles dizem isso da fé comunista. Eu, o que digo é que toda a fé conduz ao mal. Podemos definir fé como uma firme convicção em alguma coisa de que não se tem nenhuma prova. Ali onde existe a prova, não se fala de fé. Não falamos de fé a respeito do fato de que dois e dois são quatro nem de que a terra é redonda. Só falamos de fé quando queremos substituir a prova pela emoção. Bertrand Russell 1872 - 1970

Acts of literature

O que chamamos de literatura pressupõe que seja dada licença ao escritor para dizer tudo o que queira ou tudo o que possa, permanecendo, ao mesmo tempo, protegido de toda censura, seja religiosa ou política. Jacques Derrida 1930 - 2004

Como distinguir ciência de pseudociência

I don't believe in heaven, I don't believe in hell Never joined the herd, could not adjust well Slave and master, it's not for me I choose my own path, set myself free A palavra “pseudo” significa “falso”. O modo mais seguro de identificar algo falso é saber tanto quanto possível sobre os fatos reais — neste caso, a própria ciência. Ter conhecimento científico não se restringe a saber fatos científicos (como a distância da Terra ao Sol, a idade da Terra, as diferenças entre mamíferos e répteis etc.). Significa entender a natureza da ciência — os critérios para obter evidência, como projetar experimentos relevantes, a avaliação de possibilidades, os testes de hipóteses, o estabelecimento de teorias, os múltiplos aspectos dos métodos científicos que tornam possível estabelecer conclusões confiáveis acerca do universo físico. Já que os meios de comunicação bombardeiam-nos com absurdos, torna-se útil ter em conta as características da pseudociência. A presença de apenas uma del

Narco-Evangelistão

They are corrupt ambitious constructs of the state O "presidente" Jair Bolsonaro negou desde o início da gravidade da Covid-19, se contrapôs a medidas de isolamento social e defendeu o uso de um medicamento cuja eficácia não foi comprovada. Nesse contexto, o presidente vê a aprovação a seu governo crescer, entre outros fatores, pela popularidade do auxílio emergencial. Como o senhor avalia esse quadro? Ora, a maior parte da população brasileira é pobre por razões que ela desconhece. Esse desconhecimento abre enorme espaço à manipulação. A grande mídia fragmenta notícias e cria um mundo falso e enviesado. A religião evangélica, quando se organiza como partido político, pretende se aproveitar dessa ignorância construída e volitiva para fabricar um consenso reacionário e fundamentalista no País. Isso abre enorme espaço para um uso instrumental da pobreza da qual Bolsonaro é a expressão máxima. Jessé S.

À parte das coisas

Money & religion, segregation & division your dirty cash in the pockets of the wicked politicians lobbying for slavery in a new and modern way É preciso uma considerável dose de inconsciência para entregar-se sem reservas a qualquer coisa. Os crentes, os apaixonados, os discípulos, só percebem uma face de suas deidades, de seus ídolos, de seus mestres. O entusiasta permanece inelutavelmente ingênuo. Há sentimento puro onde a mescla de graça e imbecilidade não se traia, e admiração devota sem eclipse da inteligência? Quem entrevê simultaneamente todos os aspectos de alguém ou de algo permanece para sempre indeciso entre o arrebatamento e o estupor. Disse que qualquer crença: que fausto do coração — e quanta ignomínia por baixo! É o infinito sonhado em um esgoto e que conserva, indeléveis, sua marca e seu fedor. Há um notário em cada santo, um quitandeiro em todo herói, um porteiro no mártir. No fundo dos suspiros esconde-se uma careta; aos sacrifícios e às orações misturam-se os

Massangana

Machado de Assis e Joaquim Nabuco  não pouparam a igreja,  que era latifundiária e proprietária de escravos A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte.

Rostos da decadência

Archaic subjugation, but you call it Church! Uma civilização começa a decair a partir do momento em que a Vida torna-se sua única obsessão. As épocas de apogeu cultivam os valores por si mesmos: a vida é apenas um meio de realiza-los: o indivíduo não sabe que vive. Ele vive, escravo feliz das formas que engendra, preserva e idolatra. A afetividade o domina e o preenche. Não há criação alguma sem os recursos do “sentimento”, que são limitados: no entanto, para aquele que só experimenta sua riqueza, parecem inesgotáveis: esta ilusão produz a história. Na decadência, o embrutecimento afetivo só permite duas modalidades de sentir e de compreender: a sensação e a ideia. Ora, é pela afetividade que nos entregamos ao mundo dos valores, que projetamos vitalidade nas categorias e nas normas. A atividade de uma civilização em seus momentos fecundos consiste em fazer sair as ideias de seu nada abstrato, em transformar os conceitos em mitos. A passagem do indivíduo anônimo ao indivíduo consciente

O antiprofeta

You better become an atheist Em todo homem dorme um profeta, e quando ele acorda há um pouco mais de mal no mundo… A loucura de pregar está tão enraizada em nós que emerge de profundidades desconhecidas ao instinto de conservação. Cada um espera seu momento para propor algo: não importa o quê. Tem uma voz: isto basta. Pagamos caro não ser surdos nem mudos…   Dos esfarrapados aos esnobes, todos gastam sua generosidade criminosa, todos distribuem receitas de felicidade, todos querem dirigir os passos de todos: a vida em comum torna-se intolerável e a vida consigo mesmo mais intolerável ainda: quando não se intervém nos assuntos dos outros, se está tão inquieto com os próprios que se converte o “eu” em religião ou, apóstolo às avessas, se o nega: somos vítimas do jogo universal…  A abundância de soluções para os aspectos da existência só é igualada por sua futilidade. A História: manufatura de ideais…, mitologia lunática, frenesi de hordas e de solitários…, recusa de aceitar a realidade t

Genealogia do fanatismo

Yer god is dead to me Em si mesma toda ideia é neutra ou deveria sê-lo, mas o homem a anima, projeta nela suas paixões e suas demências; impura, transformada em crença, se insere no tempo, adota a forma de acontecimento: o passo da lógica para a epilepsia está consumado… Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas. Idólatras por instinto tornam incondicionados os objetos de nossos sonhos e de nossos interesses. A história não é mais do que um desfile de falsos Absolutos, uma sucessão de templos em honra de pretextos, um aviltamento do espírito ante o Improvável. Mesmo quando se afasta da religião, o homem permanece sujeito a ela; consumindo-se em forjar simulacros de deuses, os adota depois febrilmente: sua necessidade de ficção, de mitologia, triunfa sobre a evidência e o ridículo. Sua capacidade de adorar é responsável por todos os seus crimes: ele que ama indevidamente a um deus obriga os outros a amá-lo, planejando exterminá-los se recusam. Não há intolerância,