Essas reportagens persistem e proliferam porque vendem. E elas vendem, acho eu, porque muitos de nós desejam intensamente abandonar as nossas vidas monótonas, reacender aquele sentimento de espanto que lembramos da infância, e também, no caso de algumas das histórias, poder acreditar real e verdadeiramente - em Alguém mais velho, mais inteligente e mais sábio que cuida de nós. É nítido que a fé não basta para muitas pessoas. Elas suspiram por evidência sólida, prova científica. Desejam o selo científico da aprovação, mas não querem se submeter aos padrões rigorosos de evidência que conferem credibilidade a esse selo. Que alívio seria: a dúvida confiavelmente abolida! Então a carga penosa de cuidar de nós mesmos seria eliminada. Preocupamo-nos - justificadamente - com o que significa para o futuro humano o fato de termos apenas nós mesmos com quem contar.
Esses são os milagres modernos - confirmados descaradamente por aqueles que os criam do nada, evitando todo e qualquer exame cético formal, milagres que podem ser encontrados a preços baratos em todos os supermercados, mercearias e lojas de conveniência do país. Uma das pretensões do tabloides é fazer a ciência - o próprio instrumento de nossa descrença - confirmar nossas crenças antigas e promover a convergência da pseudociência e da religião.
O ceticismo deve ser um componente do conjunto de ferramentas do explorador, senão perdemos o rumo. Já existem maravilhas demais lá fora, sem que precisemos inventar alguma.
Carl Sagan
1934 - 1996