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O ceticismo não vende jornais

Com nossos cérebros preparados para isso desde a primeira infância,
seria surpreendente que não achássemos um aqui e ali

Nos anos 90, o universo dos tabloides está em expansão, devorando vorazmente outros meios de comunicação. Jornais, revistas ou programas de televisão que trabalham sob restrições meticulosas, impostas pelo que realmente se conhece, vendem bem menos do que produtos da mídia com padrões menos escrupulosos. Podemos observar esse fato na nova geração da televisão reconhecidamente sensacionalista, e também cada vez mais em supostos programas de notícias e informações.

Essas reportagens persistem e proliferam porque vendem. E elas vendem, acho eu, porque muitos de nós desejam intensamente abandonar as nossas vidas monótonas, reacender aquele sentimento de espanto que lembramos da infância, e também, no caso de algumas das histórias, poder acreditar real e verdadeiramente - em Alguém mais velho, mais inteligente e mais sábio que cuida de nós. É nítido que a fé não basta para muitas pessoas. Elas suspiram por evidência sólida, prova científica. Desejam o selo científico da aprovação, mas não querem se submeter aos padrões rigorosos de evidência que conferem credibilidade a esse selo. Que alívio seria: a dúvida confiavelmente abolida! Então a carga penosa de cuidar de nós mesmos seria eliminada. Preocupamo-nos - justificadamente - com o que significa para o futuro humano o fato de termos apenas nós mesmos com quem contar.

Esses são os milagres modernos - confirmados descaradamente por aqueles que os criam do nada, evitando todo e qualquer exame cético formal, milagres que podem ser encontrados a preços baratos em todos os supermercados, mercearias e lojas de conveniência do país. Uma das pretensões do tabloides é fazer a ciência - o próprio instrumento de nossa descrença - confirmar nossas crenças antigas e promover a convergência da pseudociência e da religião.

O ceticismo deve ser um componente do conjunto de ferramentas do explorador, senão perdemos o rumo. Já existem maravilhas demais lá fora, sem que precisemos inventar alguma.

Carl Sagan

1934 - 1996


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