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País de analfabetos

 
Cartoon de Quino

Acontece que a cultura literária em nosso país é de baixa densidade. O peso do analfabetismo é estupendo, principalmente se considerarmos o analfabetismo técnico, ou seja, aquele determinado pela não utilização da matéria escrita, independentemente da habilitação para fazê-lo.

Consequentemente, devemos ser considerados como país de baixa pressão literária. Além do mais, a nossa elite culta conserva o livro como sinal de distinção, fator de prestígio, reservado a uma camada de eleitos.

Deste modo, trava a disseminação da leitura, inibe os processos de distribuição ampla do livro, pois, deste modo, retarda o passo da democratização da sociedade brasileira.

Para que haja alta pressão literária é necessária a implantação de instituições políticas e sociais que dispensem à obra literária uma acolhida especial. Isto está diretamente ligado ao nível de instrução e à disponibilidade de tempo livre por parte da população. Estas, naturalmente, são etapas do desenvolvimento do país, ainda não atingidas por nosso povo.

Daí o obscurantismo com que se trata da questão literária entre nós. O prestígio, na chamada Nova República, se desloca para o aspecto ostensivo e espetacular da literatura para a sua institucionalização exibicionista e frívola, como acontece agora com a súbita valorização da Academia Brasileira de Letras.

É que as letras estão sendo consideradas como ornamento pessoal, marca de potestade intelectual, jamais como um fator de potencialização da capacidade realizadora do país, de evolução de nosso poder cognoscitivo e de proliferação de uma criatividade múltipla.

A horizontalização do consumo literário seria o caminho desejável, implicando a disseminação de ambientes refinadamente cultos e democraticamente conscientes. Seria romper com a escravidão da ignorância.

No despontar da Nova República verificou-se cuidadosa apatia com o problema do livro, elegendo-se misteriosas prioridades que se entendiam mais com a publicidade e o anestesiamento da massa que com a formação de consciências livres.

Para que o livro possa integrar o horizonte de nossa soberania e desenvolvimento, será imprescindível: a) remover a barreira do analfabetismo; b) formar a prática de leitura; c) distribuir adequadamente os livros.

Torna-se necessário prover um ambiente favorável à leitura, baseado na convicção de que os livros, além de propiciar o acesso ao conhecimento, constituem agradável entretenimento.

Fábio Lucas


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