Aqui mesmo, esbocei em rápidos traços o gado sindical, o gado patriótico, o gado dos pelegos, o gado dos "honestos", devo hoje pintar o mais importante dos gados, o mais forte por sua estupidez, o gado eleitoral.
Sobre a pele de asno do tambor nacionalista, sobre a pele dos tamborins republicanos, nas cordas da guitarra sentimentalmente humanitária, nos metais do trompete revolucionários, eis que se bate, que se toca, que soa o chamado do gado; é a ária pastoral dos eleitores que ressoa por toda parte através do espaço.
Votais em Fulano, votai em Beltrano, votai em Sicrano. Cartazes multicores perseguem-vos em todas as esquinas a fim de convencer-vos da candura, do espírito, da lealdade de um candidato qualquer.
Em poucas linhas, um Gérault Richard dos bulevares exteriores, um Rouvier de estrada, um Marchand do punhal (políticos corruptos) e da chave mestra tornam-se modelos de virtude, honestidade e doçura.
O gado eleitoral comenta a força do bastão de Untal, a chicotada de Taloutro, a astúcia crapulosa de Coisa e o berro tonitruante de Fulano.
O gado pesa também o valor das promessas feitas; não que ele ignore que elas nunca são cumpridas, mas para dar-se um pouco de ilusão.
A lua, a felicidade, a redução dos impostos, a liberdade, tantas quimeras nas quais eles não crê mais, mas nas quais lhe parece bom simular ainda crer.
Ele corre aos encontros que marcam com ele os aprendizes de pastores após ter feito uma escolha no jogo de dados do bistrô. Com os nacionalistas ou com os socialistas? Os dados respondem.
Ele enche a sala e escuta religiosamente o orador-candidato que corta fatias de felicidade e partilha pequenos pacotes de reformas. Ele abre a goela e os ouvidos para receber mais.
Aquele que quer lançar a verdade é cercado, empurrado; os punhos erguem-se sobre sua cabeça, cospem-lhe no rosto, expulsam-no do recinto.
E, tranquilo, o Prometedor detalha a felicidade, oferece o paraíso, e o gado eleitoral retoma o sonho interrompido que ele fazia desperto, bebe novamente o vinho decepcionante da esperança.
Como em todos os rebanhos, há os condutores, a gente do comitê. São aquelas a quem o candidato prometeu outra coisa diferente da carne oca da esperança. Eles preparam o público, embriagam de vinho ruins alguns fortões que farão de seu peito uma muralha ao escroque.
Ao lado deles, há alguns sinceros: aqueles cuja estupidez alcança o último grau. Eles fazem o melhor complemento; são os carneiros que se precipitam excitados mostrando o caminho a todo o rebanho.
Digamos bem alto: que o gado eleitoral seja tosquiado, comido, preparado em todos os molhos, o que isso nos causa? Nada.
O que nos importa é que, arrastados pelo peso da massa, rolamos para o precipício ao qual conduz a inconsciência do rebanho. Vemos o precipício, gritamos perigo. Se pudéssemos livrar-nos da massa que nos arrasta, deixá-la-íamos rolar rumo ao abismo; no que me diz respeito, direi inclusive que provavelmente a empurraria. Mas não podemos fazê-lo. Assim, devemos estar em toda parte para mostrar o perigo, denunciar o farsante. Reconduzamos ao terreno da realidade o gado eleitoral que se desgarra nas areias movediças do sonho.
Não queremos votar, mas aqueles que votam escolhem um amo, o qual será, quer queiramos quer não, nosso amo. Assim, devemos impedir quem quer que seja de realizar o gesto essencialmente autoritário do voto.
Entre os nacionalistas e os socialistas, entre os republicanos e os monarquistas, por toda parte devemos levar a palavra anarquista: "Nem deus, nem amo".
E pela razão, e pela violência, devemos impedir a corrida ao abismo aonde nos levam a covardia e a imbecilidade dos votantes.
Que o gado eleitoral seja conduzido a chicotadas, isso pouco importa, mas ele constrói barreiras nas quais se confina e quer confinar-nos; nomeia amos que o dirigirão e querem dirigir-nos.
Albert Libertad
1875 - 1908