Nossa época tem orgulho de seu sentido histórico: como pôde chegar a crer no absurdo de que no começo do cristianismo está a grosseira fábula do fazedor de milagres e redentor - e de que tudo espiritual e simbólico é apenas um desenvolvimento posterior? Pelo contrário: a história do cristianismo - da morte na cruz em diante - é a história da má compreensão, gradativamente mais grosseira, de um simbolismo original. Com a difusão do cristianismo por massas ainda mais amplas mais cruas, às quais escapavam cada vez mais os pressupostos de que havia surgido, tornou-se mais necessário vulgarizar, barbarizar o cristianismo - ele absorveu doutrinas e ritos de todos os cultos subterrâneos do Império Romano, assim como o absurdo de toda espécie de razão doente. O destino do cristianismo está na necessidade de que sua fé mesma se tornasse tão doente, tão baixa e vulgar como eram doentes, baixas e vulgares as necessidades que com ela deviam ser satisfeitas. A própria barbárie doente alça-se finalmente ao poder como Igreja - a Igreja, essa forma de inimizade mortal a toda retidão, a toda altura da alma, a toda disciplina do espírito, a toda humanidade franca e boa. Valores cristãos - valores nobres: somente nós, espíritos tornados livres, restabelecemos esse contraste de valores, o maior que existe!.
As falsas previsões proféticas apenas têm o poder sobre aqueles que foram condicionados a crer sem base na evidência e sobre aqueles segundo o nível de instrução é espantosamente carente de teoria materialista. É como se um rei arcaico falasse e suas palavras mostrassem como verdadeiras, seja como ordens, bênçãos ou maldições que poderiam fazer acontecer, magicamente, o que elas tendem a demonstrar. Acredita-se por medo a constatação imperativa da profecia paterna que remete ao obscurantismo e ao domínio subjetivo e ao triunfo geográfico ou a "experiência divina" revela o conformismo absoluto que está implícito. Em ambos os casos, a fragilidade dos crentes que concordam sem resistência extrai a crueldade do representante (muitas vezes um semi-letrado) em extrair satisfação, vaidade e dinheiro da ilusão, ou seja, de enriquecer e ganhar poder por meio da mentira.