Nossa época tem orgulho de seu sentido histórico: como pôde chegar a crer no absurdo de que no começo do cristianismo está a grosseira fábula do fazedor de milagres e redentor - e de que tudo espiritual e simbólico é apenas um desenvolvimento posterior? Pelo contrário: a história do cristianismo - da morte na cruz em diante - é a história da má compreensão, gradativamente mais grosseira, de um simbolismo original. Com a difusão do cristianismo por massas ainda mais amplas mais cruas, às quais escapavam cada vez mais os pressupostos de que havia surgido, tornou-se mais necessário vulgarizar, barbarizar o cristianismo - ele absorveu doutrinas e ritos de todos os cultos subterrâneos do Império Romano, assim como o absurdo de toda espécie de razão doente. O destino do cristianismo está na necessidade de que sua fé mesma se tornasse tão doente, tão baixa e vulgar como eram doentes, baixas e vulgares as necessidades que com ela deviam ser satisfeitas. A própria barbárie doente alça-se finalmente ao poder como Igreja - a Igreja, essa forma de inimizade mortal a toda retidão, a toda altura da alma, a toda disciplina do espírito, a toda humanidade franca e boa. Valores cristãos - valores nobres: somente nós, espíritos tornados livres, restabelecemos esse contraste de valores, o maior que existe!.
Vivemos numa era de charlatões? Já se disse muitas vezes que escritores possuem sensibilidade particular para as mudanças culturais de seu tempo. Portanto, a publicação em língua inglesa, nos últimos anos, de dois romances intitulados Charlatans – um de Robin Cook, outro de Jezebel Weiss – pode ser um sinal de alerta de que isso esteja acontecendo. Talvez esses livros sejam um aviso para que tomemos cuidado com esses indivíduos que, em número crescente, prometem o que não podem cumprir, arrogam-se qualidades que não possuem ou oferecem produtos nada confiáveis, como notícias falsas, remédios suspeitos e trapaças online. A lista desses mestres da ilusão (para usar uma expressão bem-educada) pode incluir também alguns evangelizadores, curandeiros e políticos, bem como, convém não esquecer, certos intelectuais. O que explica a proliferação dos charlatões em nosso tempo? Uma das respostas possíveis é que ela resulta das pressões e da sedução exercidas pelos meios de comunicação, sobretudo ...