Nossa época tem orgulho de seu sentido histórico: como pôde chegar a crer no absurdo de que no começo do cristianismo está a grosseira fábula do fazedor de milagres e redentor - e de que tudo espiritual e simbólico é apenas um desenvolvimento posterior? Pelo contrário: a história do cristianismo - da morte na cruz em diante - é a história da má compreensão, gradativamente mais grosseira, de um simbolismo original. Com a difusão do cristianismo por massas ainda mais amplas mais cruas, às quais escapavam cada vez mais os pressupostos de que havia surgido, tornou-se mais necessário vulgarizar, barbarizar o cristianismo - ele absorveu doutrinas e ritos de todos os cultos subterrâneos do Império Romano, assim como o absurdo de toda espécie de razão doente. O destino do cristianismo está na necessidade de que sua fé mesma se tornasse tão doente, tão baixa e vulgar como eram doentes, baixas e vulgares as necessidades que com ela deviam ser satisfeitas. A própria barbárie doente alça-se finalmente ao poder como Igreja - a Igreja, essa forma de inimizade mortal a toda retidão, a toda altura da alma, a toda disciplina do espírito, a toda humanidade franca e boa. Valores cristãos - valores nobres: somente nós, espíritos tornados livres, restabelecemos esse contraste de valores, o maior que existe!.
O Dalai Lama saiu em defesa dos testes termonucleares recentemente realizados pelo Estado indiano, e o fez utilizando a mesma linguagem dos partidos chauvinistas que hoje controlam os negócios do país. Os países "desenvolvidos", diz ele, precisam se dar conta de que a Índia é um grande adversário e não se preocupar com seus assuntos internos. Essa é uma perfeita afirmação de realpolitik , tão grosseira, banal e oportunista que não merecia qualquer comentário se viesse de outra fonte. "Pense diferente", diz o incorreto anúncio dos computadores da Apple que exibe a expressão serena de Sua Santidade. Entre as suposições não confirmadas dessa campanha de cartazes está a crença ampla e preguiçosamente sustentada de que a fé "oriental" é diferente de outras religiões: menos dogmática, mais contemplativa, mais... transcendental. Essa bem-aventurada, irrefletida excepcionalidade foi transmitida ao Ocidente por intermédio de uma sucessão de meios e narrativas, vari