Divirta-se, aproveite, alegre-se, goze... nas condições do capital. Esse cuidado ativista com a existência é tenso, focado em compartilhar o conforto anunciado pela mídia, a partir, porém, de uma dívida insolvente, de uma culpa que nunca poderá ser revertida. Benjamin escreve que o capitalismo é "uma pura religião de culto, talvez a mais extrema que alguma vez existiu", que pode contar com uma duração permanente. Não há trégua nem perdão. A pompa do sagrado do marketing, o ritual do lucro e o consumo são imparáveis. O capitalismo é um culto que requer uma celebração obsessiva. Aparentemente é sempre uma festa - quando na realidade nunca é. Não se distingue mais entre o dia e a noite, em que o tempo é sempre e apenas dinheiro. Se o culto é ininterrupto, é graças à apoteose da dívida. "O capitalismo é presumivelmente o primeiro caso de um culto não expiatório, mas culpabilizador. Não poderia ser diferente para uma religião que não permite salvação e redenção. Sob o céu do capital, resta apenas "o desespero cósmico".
As falsas previsões proféticas apenas têm o poder sobre aqueles que foram condicionados a crer sem base na evidência e sobre aqueles segundo o nível de instrução é espantosamente carente de teoria materialista. É como se um rei arcaico falasse e suas palavras mostrassem como verdadeiras, seja como ordens, bênçãos ou maldições que poderiam fazer acontecer, magicamente, o que elas tendem a demonstrar. Acredita-se por medo a constatação imperativa da profecia paterna que remete ao obscurantismo e ao domínio subjetivo e ao triunfo geográfico ou a "experiência divina" revela o conformismo absoluto que está implícito. Em ambos os casos, a fragilidade dos crentes que concordam sem resistência extrai a crueldade do representante (muitas vezes um semi-letrado) em extrair satisfação, vaidade e dinheiro da ilusão, ou seja, de enriquecer e ganhar poder por meio da mentira.