Divirta-se, aproveite, alegre-se, goze... nas condições do capital. Esse cuidado ativista com a existência é tenso, focado em compartilhar o conforto anunciado pela mídia, a partir, porém, de uma dívida insolvente, de uma culpa que nunca poderá ser revertida. Benjamin escreve que o capitalismo é "uma pura religião de culto, talvez a mais extrema que alguma vez existiu", que pode contar com uma duração permanente. Não há trégua nem perdão. A pompa do sagrado do marketing, o ritual do lucro e o consumo são imparáveis. O capitalismo é um culto que requer uma celebração obsessiva. Aparentemente é sempre uma festa - quando na realidade nunca é. Não se distingue mais entre o dia e a noite, em que o tempo é sempre e apenas dinheiro. Se o culto é ininterrupto, é graças à apoteose da dívida. "O capitalismo é presumivelmente o primeiro caso de um culto não expiatório, mas culpabilizador. Não poderia ser diferente para uma religião que não permite salvação e redenção. Sob o céu do capital, resta apenas "o desespero cósmico".
Vivemos numa era de charlatões? Já se disse muitas vezes que escritores possuem sensibilidade particular para as mudanças culturais de seu tempo. Portanto, a publicação em língua inglesa, nos últimos anos, de dois romances intitulados Charlatans – um de Robin Cook, outro de Jezebel Weiss – pode ser um sinal de alerta de que isso esteja acontecendo. Talvez esses livros sejam um aviso para que tomemos cuidado com esses indivíduos que, em número crescente, prometem o que não podem cumprir, arrogam-se qualidades que não possuem ou oferecem produtos nada confiáveis, como notícias falsas, remédios suspeitos e trapaças online. A lista desses mestres da ilusão (para usar uma expressão bem-educada) pode incluir também alguns evangelizadores, curandeiros e políticos, bem como, convém não esquecer, certos intelectuais. O que explica a proliferação dos charlatões em nosso tempo? Uma das respostas possíveis é que ela resulta das pressões e da sedução exercidas pelos meios de comunicação, sobretudo ...