Em agosto de 1925, uma burguesa do Norte, Mme L., de sessenta anos, que vivia com o marido e os filhos, mata a nora grávida de seis meses durante uma viagem de automóvel, enquanto o filho dirigia. Condenada à morte, perdoada, terminou a vida numa casa de correção sem manifestar nenhum remorso; pensava ter sido aprovada por deus quando matou a nora "como se arranca erva daninha, coisa que não presta, como se mata uma fera". Dessa selvageria dava como única explicação ter-lhe dito um dia a jovem mulher: "Você me tem agora, portanto será preciso contar comigo." Foi quando suspeitou da gravidez da nora que comprou um revólver, a pretexto de se defender contra os ladrões. Depois da menopausa apegara-se desesperadamente à maternidade; durante 12 anos sentira incômodos que exprimiam simbolicamente uma gravidez imaginária.
Vivemos numa era de charlatões? Já se disse muitas vezes que escritores possuem sensibilidade particular para as mudanças culturais de seu tempo. Portanto, a publicação em língua inglesa, nos últimos anos, de dois romances intitulados Charlatans – um de Robin Cook, outro de Jezebel Weiss – pode ser um sinal de alerta de que isso esteja acontecendo. Talvez esses livros sejam um aviso para que tomemos cuidado com esses indivíduos que, em número crescente, prometem o que não podem cumprir, arrogam-se qualidades que não possuem ou oferecem produtos nada confiáveis, como notícias falsas, remédios suspeitos e trapaças online. A lista desses mestres da ilusão (para usar uma expressão bem-educada) pode incluir também alguns evangelizadores, curandeiros e políticos, bem como, convém não esquecer, certos intelectuais. O que explica a proliferação dos charlatões em nosso tempo? Uma das respostas possíveis é que ela resulta das pressões e da sedução exercidas pelos meios de comunicação, sobretudo ...