Em agosto de 1925, uma burguesa do Norte, Mme L., de sessenta anos, que vivia com o marido e os filhos, mata a nora grávida de seis meses durante uma viagem de automóvel, enquanto o filho dirigia. Condenada à morte, perdoada, terminou a vida numa casa de correção sem manifestar nenhum remorso; pensava ter sido aprovada por deus quando matou a nora "como se arranca erva daninha, coisa que não presta, como se mata uma fera". Dessa selvageria dava como única explicação ter-lhe dito um dia a jovem mulher: "Você me tem agora, portanto será preciso contar comigo." Foi quando suspeitou da gravidez da nora que comprou um revólver, a pretexto de se defender contra os ladrões. Depois da menopausa apegara-se desesperadamente à maternidade; durante 12 anos sentira incômodos que exprimiam simbolicamente uma gravidez imaginária.
As falsas previsões proféticas apenas têm o poder sobre aqueles que foram condicionados a crer sem base na evidência e sobre aqueles segundo o nível de instrução é espantosamente carente de teoria materialista. É como se um rei arcaico falasse e suas palavras mostrassem como verdadeiras, seja como ordens, bênçãos ou maldições que poderiam fazer acontecer, magicamente, o que elas tendem a demonstrar. Acredita-se por medo a constatação imperativa da profecia paterna que remete ao obscurantismo e ao domínio subjetivo e ao triunfo geográfico ou a "experiência divina" revela o conformismo absoluto que está implícito. Em ambos os casos, a fragilidade dos crentes que concordam sem resistência extrai a crueldade do representante (muitas vezes um semi-letrado) em extrair satisfação, vaidade e dinheiro da ilusão, ou seja, de enriquecer e ganhar poder por meio da mentira.