Enquanto os desempregados dos países ricos e pobres, enquanto os subempregados desses países e enquanto os superexplorados dos países pobres se sentirem culpados e envergonhados pelo desemprego e pelo subemprego, enquanto as políticas de promessa de mais empregos forem acreditadas, e enquanto acreditarmos que o desemprego em massa é uma "crise" (portanto, algo passageiro e solucionável) nada será pensando e nada será feito.
Que poderia ser mais degradante para os seres humanos do que a grande solução britânica para a "crise" do emprego? Isto é, o "trabalho a hora zero" em que o empregado é remunerado quando trabalha, mas só é empregado de vez em quando, devendo ficar em casa, disponível e não remunerado, enquanto uma empresa não o chamar e o usar pelo tempo que julgar necessário. Melhor ainda é o conceito que, diz Forrester, nem o surrealismo ousou inventar, o da "empresa cidadã", aquela que recebe todo tipo de subvenção, isenções de taxas, possibilidades de contrato vantajosos para que, com civismo, ofereça empregos. "Benevolente, ela aceita. Não emprega ninguém. Desloca-se, ou ameça fazê-lo, se tudo não ocorrer conforme sua vontade". Ninguém pergunta qual a operação miraculosa pela qual a miséria do desemprego se traduz em vantagens para as empresas e sem nenhum resultado para o país onde se dão ao desfrute de se instalar. Por que a estupidez complacente de governos que não enxergam que empresas não são cívicas (pertencem à esfera privada, isto é, ao mercado), não são agentes de caridade e não empregam porque não precisam dos empregos para ter lucro? Não só isso. O poder mundial se encontra nos organismos econômicos privados com os quais os Estados contraem dívidas públicas, isto é, os cidadãos devem pagar para que seus governos "eliminem o déficit público", isto é, destruam ou não criem políticas sociais que sirvam de paliativo à barbárie econômica.
Nada impedirá que o "pensamento único" dos donos da economia e do planeta chegue à pergunta crucial: como livrar-se dos trabalhadores desempregados e subempregados?
Do século XVIII até os anos 70 do século XX, o capitalismo operava por inclusão, isto é, colocando um número cada vez maior de pessoas no mercado de trabalho assalariado e com a promessa de um consumo crescente para toda a sociedade; hoje, no entanto, opera por exclusão, pois o capital financeiro, o monetarismo e o desenvolvimento tecnológico trazem um tipo novo de concentração privada da riqueza que dispensa o trabalho e o consumo de massa.
Depois de haver produzido mercadorias descartáveis, o trabalhador tornou-se a última mercadoria descartável.