Vivemos numa era de charlatões? Já se disse muitas vezes que escritores possuem sensibilidade particular para as mudanças culturais de seu tempo. Portanto, a publicação em língua inglesa, nos últimos anos, de dois romances intitulados Charlatans – um de Robin Cook, outro de Jezebel Weiss – pode ser um sinal de alerta de que isso esteja acontecendo. Talvez esses livros sejam um aviso para que tomemos cuidado com esses indivíduos que, em número crescente, prometem o que não podem cumprir, arrogam-se qualidades que não possuem ou oferecem produtos nada confiáveis, como notícias falsas, remédios suspeitos e trapaças online. A lista desses mestres da ilusão (para usar uma expressão bem-educada) pode incluir também alguns evangelizadores, curandeiros e políticos, bem como, convém não esquecer, certos intelectuais. O que explica a proliferação dos charlatões em nosso tempo? Uma das respostas possíveis é que ela resulta das pressões e da sedução exercidas pelos meios de comunicação, sobretudo ...
Sobre a crítica em sua tessitura com a política, cumprem algumas palavras. No entanto, uma vez que a política não é uma esfera isolada nem encerrada em si mesma — manifestando-se em instituições políticas, em normas e em procedimentos — , mas que só pode ser compreendida em seu vínculo com a correlação de forças da sociedade, que constitui a substância de tudo o que é político e que é encoberta pelo que aparece superficialmente como político; tampouco o conceito de crítica deve se limitar ao campo da política no sentido mais estrito. A crítica é por essência democrática. Não é somente o caso de que a liberdade democrática exige a crítica e requer um impulso crítico: ela é mesmo definida por meio da crítica. Não é difícil se recordar a história da questão: a concepção de separação dos poderes, na qual se assentam de Locke e Montesquieu até a Constituição Americana e a todas as democracias presentes, encontra seu ponto nodal na crítica. O sistema de checks and balances e a alternância no...