Escravos de Deus, os homens devem sê-lo também da Igreja e do Estado, enquanto esse último for consagrado pela Igreja.
A ideia de Deus implica a abdicação da razão e da justiças humanas; ela é a negação mais decisiva da liberdade humana e resulta necessariamente na escravidão dos homens, tanto na teoria quanto na prática.
A não ser que queiramos a escravidão e o envilecimento dos homens, como o querem os jesuítas, como o querem os mômiers, os pietistas e os metodistas protestantes, não podemos nem devemos fazer a mínima concessão, nem ao Deus da teologia nem ao da metafísica. Aquele que, nesse alfabeto místico, começar por Deus, deverá fatalmente acabar por Deus; aquele que quer adorar Deus, deve, sem se pôr ilusões pueris, renunciar bravamente à sua liberdade e à sua humanidade.
Se Deus existe, o homem é escravo; ora, o homem pode, deve ser livre, portanto, Deus não existe.
É preciso lembrar quanto e como as religiões embrutecem e corrompem os povos? Elas matam neles a razão, o principal instrumento da emancipação humana e os reduzem à imbecilidade, condição essencial da escravidão. Elas desonram o trabalho humano e fazem dele sinal e fonte de servidão. Elas matam a noção e o sentimento da justiça humana, fazendo sempre pender a balança para o lado dos patifes triunfantes, objetos privilegiados da graça divina. Elas matam o orgulho e a dignidade humana, protegendo apenas os submissos e os humildes. Elas sufocam no coração dos povos todo sentimento de fraternidade humana, preenchendo-o de crueldade.
Bakunin