A pura intelecção sabe a fé como o que lhe está contraposto, à razão e à verdade. Como para ela a fé é, em geral, uma trama de superstições, preconceitos e erros, a consciência desse conteúdo continua organizando-se, para ela, num reino de erro no qual a falsa intelecção é, primeiramente, como a massa geral da consciência, de modo imediato, espontâneo, sem reflexão em si mesma, porém, tem também nela o momento da reflexão em si ou a autoconsciência, separado da espontaneidade, como uma intelecção ou má intenção que permanecem no fundo para si e que perturbam aquela consciência. Aquela massa é vítima do engano de um sacerdócio que põe em prática seu vaidoso e ciumento empenho em permanecer de modo exclusivo de posse da intelecção e seus outros interesses egoístas e que, ao mesmo tempo, conspira com o despotismo, no qual como unidade sintética e carente de conceito do reino real e do reino ideal, se encontra acima da má intelecção da multidão e da má intenção dos sacerdotes e o despotismo, associando também em si ambas as coisas pela estupidez e confusão criadas no povo por um sacerdócio enganador; desprezando a ambos, disso extrai a vantagem tranquila da dominação e a execução de suas apetências e caprichos, mas, ao mesmo tempo, é o embotamento da intelecção, a própria superstição e o próprio erro.
Hegel
1770 - 1831