Cartoon de Montt
Importantes fatores de ateísmo encontram-se também no processo de crescimento psicológico. A fé nos círculos cristão é constituída no decorrer da infância e da adolescência, e adota necessariamente as formas e as expressões compreensíveis nessa época da vida; ela se impregna de um contexto antropomórfico, mágico, moral, intimamente associado às crenças fundamentais. O indivíduo, ao crescer, é levado inevitavelmente a rejeitar esses elementos infantis, e não é raro que rejeite ao mesmo tempo a fé, porque está associada a essas infantilidades. O antropomorfismo é um desses traços mais comuns: Deus não somente tem forma humana e nosso imaginário, como ainda é dotado de sentimentos humanos (antropomorfismo afetivo), amiúde ligados à projeção da imagem parental. O abandono desse antropomorfismo na idade adulta assume muitas vezes um ar de desmistificação. O deus da infância está ligado a uma concepção mágica do mundo, que nos faz atribuir um poder sobrenatural à oração; a constatação da ineficácia da oração é apontada com frequência como causa da descrença, bem como o recuo da concepção animista do mundo diante da revelação da eficácia científica. Enfim, a fé da infância está quase sempre ligada a uma moral repressiva e coercitiva que é percebida em seguida como um obstáculo à realização humana, sobretudo no campo da sexualidade. A negação da culpa acarreta a negação da fé.