Para os fascistas, instinto, alma, caráter e personalidade eram encarnações míticas, realidades biológicas, assim como legados coletivos do passado imperial. Destituídos de mediações racionais, os sujeitos dos fascistas não eram mais abstrações mentais, mas representações vivas do mito imperial da nação. Em oposição à distinção abstrata entre o corpo e a alma, Pellizzi argumentava que a "alma" era uma "realidade absorvente [realtà assorbente]". Os fascistas conceberam suas políticas como expressão dessa "realidade" através das experiências "imanentes" de violência, guerra e imperialismo. O império era uma expressão essencial do "instinto hierárquico". No fim das contas, a ideia fascista do inconsciente enfatizava a necessidade de reconhecimento das demandas do líder como uma verdadeira emanação de ímpetos destrutivos - isto é, uma afirmação dos desejos violentos. Resumindo, o fascismo acreditava ser ele próprio a personificação do desejo puro, mas, ao mesmo tempo, reprimia todo desejo sem relação com os pontos principais do fascismo ideológico: guerra total, plena violência e a destruição do inimigo. Assim, o fascismo representava absolutização dos impulsos violentos na esfera política. Isso era encapsulado pela ideia mussoliniana de "viver perigosamente" ou, como o fascista espanhol Caballero colocou, um risco criativo infundido no misticismo. O mundo fascista perfeito de Caballero seria um no qual as noções de "dor e guerra" tivessem um "valor afirmativo sobrenatural".
A ideia de que um sujeito encontrasse valor transcendental "na dor e na guerra" é um testamento das dimensões desumanizadoras da ideia fascista de que a verdade pertence ao mundo do sobrenatural, e não à história e à ação humanas. Essa crença numa forma sagrada de verdade tinha claras conotações teológicas cristãs. Na bíblia, a verdade do senhor contrasta com as mentiras dos homens: "Embora todos sejam mentirosos, deixemos deus se provar verdadeiro". Aqueles que não acreditam na verdade de deus são literalmente demonizados: "Quem é o mentiroso senão aquele que nega o Pai e o Filho." As mentiras dos infiéis emanavam do diabo. Eles queriam julgar segundo os padrões humanos e se posicionavam contra o verdadeiro entendimento que somente a fé pode oferecer: "Por que tu não entendes o que digo? É porque não pode aceitar minha palavra. Tu vens de teu pai, o diabo, e escolheste realizar os desejos de teu pai. Ele era um assassino desde o começo, e não representa a verdade porque não há verdade nele. Quando mente, ele se manifesta segundo sua natureza, pois é um mentiroso e o pai das mentiras". A ideia de verdade do fascismo cresceu a partir desse conjunto tradicional de oposições entre verdade divina e mentiras demoníacas. Como afirmava o padre fascista argentino Leonardo Castellani, em 1943, a única maneira de alcançar a verdade era traduzi-la a partir de deus. O resultado seria o deslocamento da verdade científica em favor da "verdade mítica".