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Os nomes do ódio


Repetir, como uma espécie de mantra, que a ciência e a técnica, a razão e seus frutos, são a fonte da desobediência aos direitos humanos, mais do que um equívoco, no meu entender, é agir de modo cúmplice com os que voltam o saber para o culto da morte. Defender a ciência, as artes, as técnicas, apesar dos usos genocidas que delas foi feito e ainda agora é feito, me parece uma tarefa civilizatória. Defender a educação científica e técnica da população é medida importante contra o racismo e o antissemitismo. Nas ciências e humanidades, fala a razão movida pela vontade. Afirmar da primeira o que tem fundamento na segunda, significa um contrassenso perigoso. O racismo e o antissemitismo não têm origem na ciência. Seus fundamentos seguem mesmo contra a prática científica. Julgo ser de má fé o argumento que põe na ordem científica a consagração do mal no mundo. Sempre que recebem críticas, as matrizes religiosas da humanidade praticam uma diaeresis interessada ao distinguir entre a religião na sua fonte e os usos humanos. A primeira seria imaculada, os segundos, manchados de culpa. Recordo que as guerras religiosas, a noite de São Bartolomeu, a defenestração de Praga, e outros eventos ligados à Guerra de Trinta anos, tiveram como origem a intolerância generalizada no mundo cristão, tanto entre os reformados quanto entre os ortodoxos. Esta intolerância bebeu sangue o bastante para alimentar as tiranias modernas.

Se olharmos o campo histórico, no fanatismo religioso encontram-se as raízes mais venenosas do ódio racista e antissemita e a recusa dos direitos humanos. Basta recordar o Édito de Expulsão, de 1942, dos judeus para longe da Espanha; basta olhar a Sententia Estatuto de Toledo, de 1449; basta ler o texto de Lutero, Sobre os Judeus e Suas Mentiras; isto, para falar apenas em alguns marcos da cruzada contra os judeus e as minorias em países cristãos. 

Roberto Romano

1946 - 2021


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