Não raro drogas ou práticas de auto-sugestão são levadas adiante para obter a coesão psicológica do grupo. O chefe passa por fases sucessivas de divinização. O grupo passa da autoflagelação à ação violenta em relação aos infiéis e, logo a seguir, à violência sobre si próprio, por desejo de martírio. De um lado irrompe um delírio de perseguição, do outro, a diversidade do grupo desencadeia uma verdadeira perseguição em que se atribuem ao grupo inclusive delitos que ele não cometeu.
O milenarismo nasce de uma incerteza social e explode nos momentos de crise histórica, em outros países ele pode encarnar-se em formas socialmente positiva (a revolução, a grande conquista, a luta contra o tirano, até mesmo a busca não-violenta do martírio, como para os primeiros cristãos, e, em todos esses casos, ele é amparado por uma teoria bastante sólida que permite a justificativa social do próprio sacrifício), ou imitar as formas historicamente positivas, mas ficando à margem das justificativas sociais. Numa sociedade como a norte-americana, onde já não existe mais um objeto contra o qual medir-se, como era o tempo da guerra do Vietnã, onde a sociedade permite também ao marginal receber o salário-desemprego, mas onde a solidão e a mecanização da vida impelem as pessoas à droga ou a falarem sozinhas na esquina, a procura de um culto substitutivo torna-se frenética.
Umberto Eco