Nenhuma religião, nem mesmo aquela dos antigos gregos, comparativamente a mais humana, compreendeu, abraçou, nem pôde abraçar e tolerar a ideia de humanidade. Por ter compreendido essa ideia, Sócrates foi condenado a beber cicuta em virtude de um julgamento solene realizado pela mais livre e mais civilizada das cidades do mundo antigo. As religiões orientais só conheceram castas, não homens. A religião judaica, base e ponto de partida do cristianismo, é igualmente inumana. Jeová, atribuindo a terra de Canaã ao povo eleito, hesitou em ordenar a Moisés, é horrível dizer isso, que exterminasse todas as populações pagãs? E quando os hebreus, mais humanos do que seu Deus, pouparam uma parte delas, atraíram para si a terrível cólera e a implacável vingança desse senhor impiedoso. A religião greco-latina não reconhecia senão os cidadãos, excluindo todo o resto do gênero humano que ela condenava indiferentemente à morte ou à escravidão. Enfim, não é verdadeiro que o cristianismo inaugurou a era da humanidade, pois, a despeito de todas as aparências de mansuetude e caridade, não há religião mais feroz e mais inumana.
Se as religiões evoluíram, os cleros transformaram-se e fortaleceram-se igualmente no transcurso dos séculos.
Os sacerdotes constituíram uma casta ávida de poder e orgulhosa de seus privilégios. Esforçaram-se para manter os espíritos nas superstições as mais absurdas e reinaram sobre a humanidade pelo terror e pela ignorância, apavorando os espíritos simples com os suplícios de um inferno imaginário e extorquindo o máximo possível de dinheiro das populações fanatizadas.
As funções sacerdotais fixaram-se em certas famílias... que se tornaram especialíssimas na arte de fazer os deuses falarem e os fiéis pagarem; na arte de fazer milagres e atrair, ora as bênçãos, ora as maldições, segundo os interesses do momento.