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Escuta, Ze Ninguém!

 

Não queres nem ouvir nem saber, queres berrar vivas. Mas porque não me deixas dizer-te por que razão és incapaz de alegria? Vejo-te o susto nos olhos - sente-se até que ponto o assunto te afeta profundamente. A "questão religiosa", por exemplo. Afirmas defender a "tolerância religiosa". Mas queres mais: queres que a tua religião seja a única. És intolerante quanto às outras. Ficas desesperado quando encontras alguém que, em vez de um deus pessoal, adora a natureza e procura entendê-la. [...] Queres a verdade num espelho, algures onde não possas chegar-lhe. O teu chauvinismo decorre naturalmente da tua rigidez, da tua prisão de ventre mental, Zé Ninguém.

Wilhelm Reich
1897 - 1957

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