Não nos enganemos: grandes espíritos são céticos. Zaratustra é um cético. A fortaleza, a liberdade que vem da força e sobreforça do espírito, prova-se mediante o ceticismo. Homens de convicção não devem ser levados em conta em nada fundamental referente a valor e desvalor. Convicções são prisões. Eles não vêem longe o bastante, não vêem abaixo de si: mas, para poder falar sobre valor e desvalor, é preciso ver quinhentas convicções abaixo de si - atrás de si... Um espírito que quer coisas grandes, que quer também os meios para elas, é necessariamente um cético. Ser livre de todo tipo de convicções faz parte da força, poder olhar livremente. [...] O homem da fé, o crente de todo tipo, é necessariamente um homem dependente. O "crente" não pertence a si, pode apenas ser meio, tem de ser usado, necessita de alguém que o use. Todo tipo de fé é, em si mesmo, uma expressão de abnegação, de alienação de si. Não ver muitas coisas, em nenhum ponto ser imparcial, ser inteiramente partidário, ter uma ótica estrita e necessária em todos os valores. O "crente" não é livre para ter alguma consciência quanto à questão do "verdadeiro" e do "não verdadeiro": ser honesto nesse ponto seria a sua imediata ruína. O condicionamento patológico de sua ótica faz do convicto um fanático. Os fanáticos são pitorescos, a humanidade prefere ver gestos a ouvir razões.
Friedrich Nietzsche
1844 - 1900