O Estado é a autoridade, a dominação e o poder organizados das classes proprietárias sobre as massas, a negação mais flagrante, mais cínica e mais completa da humanidade. Ele abala a solidariedade universal entre todos os seres humanos da Terra e associa alguns deles unicamente para a finalidade de destruir, dominar e escravizar todos os demais. Essa negação flagrante da humanidade, que constitui a própria essência do Estado, é, do ponto de vista do Estado, seu dever supremo e sua maior virtude. Assim, ofender, oprimir, despojar, pilhar, assassinar ou escravizar o semelhante é comumente considerado crime. Na vida pública, por outro lado, do ponto de vista do patriotismo, quando essas coisas são feitas para maior glória do Estado, para a preservação ou a ampliação de seu poder, tudo se transforma em dever e virtude. Isso explica por que toda a história dos Estados antigos e modernos é meramente uma série de crimes revoltantes; por que reis e ministros, passados e presentes, de todas as épocas e todos os países - estadistas, diplomatas, burocratas e militares - se julgados pelo prisma da simples moralidade e da justiça humana, seriam cem vezes, mil vezes merecedores de condenação a trabalhos forçados ou à forca. Não há horror, crueldade, sacrilégio ou perjúrio, não há impostura, transação infame, ladroagem cínica, pilhagem descarada ou traição vergonhosa que não tenham sido ou não seja diariamente perpetrados por representantes dos Estados, sem qualquer outro pretexto que não estas palavras elásticas, muito convenientes, mas não terríveis: "por razões de Estado".
Mikahil Bakunin
1814 - 1876